segunda-feira, 23 de abril de 2012

DELANEY - O SR. GOSTOSO

Iniciando minha série sobre namoros virtuais e blind dates, venho por meia desta atualizar este tema, chegando cheia de novidades para este ano de 2012 que mal começou. Informo também que tendo em vista os últimos acontecimentos, é muito, mas muito mesmo! provável que eu deixe de escrever sobre este tema, devido ao grande desgaste psicológico que envolve a coleta de material.
Gostaria de ser breve em cada historícula - misto de história + ridícula - que coloco a público, sempre preservando, claro, a identidade dos envolvidos. Não sei se conseguirei.
Pois bem. Há quase 6 meses ando me correspondendo com Delaney (gostaram desta hein! um grande viva para o fantástico Groucho Marx!). Ele mora em outra cidade, então nunca nos vimos. Um homem encantador, lindo. Colocamos câmeras nas nossas internets para nos vermos e microfones para conversarmos ao vivo. Que voz! Fomos conversando e nos envolvendo, e aos poucos ele foi me contando sobre sua vida, sua rotina, seus amigos... ao longo de seis meses fui ouvindo e acredito que quando a história é contada aos poucos, nós tendemos a não questionar e achar que é verdade. Por exemplo, quando eu tinha 8 anos, minha avó me contou a história do E.T. em 4 capítulos, e eu até bem pouco tempo atrás achava que o filme se baseava em fatos reais.
Ele morava com a mãe. Uma das primeiras imagens que vi na minha tela foi a da própria mãe, uma mulher simpática, idosa, a cara da minha Tia Miriam. Ela sempre vinha na webcam e me dava um tchauzinho, muito fofa. Fiquei pensando naquelas mulheres idosas, escoladas, chefes de verdadeiras gangues, mas resolvi deixar de lado minha veia poética e acreditar que aquela era a mãe mesmo.
Depois de algumas semanas ele me contou que o pai era falecido, a irmã também, e o sobrinho, um cara jovem, mas com problemas com drogas e com a polícia, estava sob os cuidados dele, dando um trabalho desgraçado. Delaney tinha então que cuidar da mãe e do sobrinho, sustentando a família toda com a renda de uma loja de jóias, do tipo feitas por encomenda.
Conversa vai e conversa vem, ele me conta a história fantástica sobre seu último relacionamento. Uma mulher linda a Sra. No. Casada, eles eram amantes. Um dia ela resolveu se separar, mas não tinha pra onde ir. Resultado: bateu na sua porta e ele, sentindo-se responsável pela criatura, deu-lhe guarida.
Foi aí que entendi que moravam na mesma casa: ele, a Sra. No e a mãe, tendo o sobrinho como hóspede temporário, de passagem fazendo escala entre e cadeia e a clínica de reabilitação.
As coisas entre Delaney e a Sra. No iam mal. E ele me confessou que, apesar de nunca termos nos visto, ele começava a desenvolver um sentimento especial por mim. O problema da Sra. No era justamente esse. Ela não assumia, nem para a sociedade e nem para os filhos que estava num novo relacionamento. Sempre que encontravam com algum conhecido ela dizia que eles eram apenas amigos e assim a coisa ia aos trancos e barrancos.
Adorável este Delaney. Eu fui acreditando em tudo!
Passados mais algumas semanas, a situação de estresse em casa, a mãe que vira e mexe tinha um peripaque, o sobrinho, e a falta de grana mesmo com a loja, ele me diz que sua coluna travou. O convênio havia negado o exame necessário para o diagnóstico e ele não sentia sua perna esquerda. Incrível. Que vida Sr. Delaney! Mais uns dias e ele descobre finalmente que tem uma hérnia de disco, mas milagrosamente fica bom e volta às suas atividades normais, físicas e laborativas, sem maiores sequelas. Ufa! que susto.
Como conversávamos quase que diariamente, fiz um levantamento perguntando sempre onde ele estava quando falava comigo. Qual não foi a minha surpresa ao receber constantemente a resposta: "estou em casa" ou "acabei de chegar em casa!", isso às 14, 15, 16 horas, ou "hoje não fui trabalhar". E eu achando normal!
Combinamos várias vezes de nos encontrar neste meio tempo. O sentimento aumentando, as conversas fluindo, nós nos conhecendo cada vez mais, e a vontade de nos encontrar se elevando em progressão geométrica. Eu sempre apoiando, ele se lamentando. E não é que SEMPRE acontecia alguma coisa que atrapalhava nossos planos. Ou era a mulher, a Sra. No, ou era a mãe ou era o sobrinho, que de uns tempos pra cá parou de existir - talvez por um erro de continuidade.
Um dia ele me contou que foi adotado! Imagina só, adotado! A sua mãe verdadeira havia morrido no parto, e por ser o filho bastardo de um juiz ele foi abandonado por sua família de sangue. Não sei como foi que uma família de judeus resolveu adotar esta criança, me lembro vagamente de ele ter falado que seus pais adotivos haviam perdido um filho, ou algo assim. O fato é que chegaram a ele e o adotaram, criando a criança como judeu, fazendo inclusive todos os rituais religiosos pertinentes.
Bom, tem o fato também de ele ter sido casado, ou juntado, ter tido 2 filhas, uma das quais ele nunca tem notícias - parece que mora na Itália. E de ele ter saído do Brasil há alguns anos para passar uma temporada na Alemanha que durou quase 10 anos. Não sei por que saiu nem por que voltou, ficou meio nebuloso. Ah!! E tudo isso sem a úvula!! Extraída após uma namorada ter notado uma insuficiência respiratória (penso que dele) durante o sono.
Agora com a mãe velhinha ele diz querer ficar e cuidar dela até o fim.
Bom, há algumas semanas, com a viagem para São Paulo marcada, vocês não vão acreditar no que aconteceu! A polícia invadiu o estabelecimento comercial dele e confiscou todo o ouro que ele usava para confeccionar suas jóias! O ouro não tinha procedência, mas ele me garantiu que não trabalhava ilegalmente. O prejuízo foi enorme, e ele já não sabia mais quando é que íamos nos encontrar. Sua vida havia virado de pernas para o ar novamente.
Neste meio tempo ele estava cogitando comprar um taxi para aumentar sua renda, mas me parece que ele mesmo ia ser o motorista do taxi, ou pelo menos foi isso que entendi.
Ah! Ele tem também um amigo, seu melhor amigo, que vai se casar com uma moça que ele mal conhece e que mora em Belo Horizonte! Delaney me contou isso cheio de desgosto pela situação, mas à medida que foi declarando seu amor por mim, foi glorificando as escolhas do amigo e recentemente dizia-se muito feliz pelo amigo ter encontrado uma moça bacana. No início a moça era não bacana, no fim ela era super! O amigo também tem problemas de saúde.
Até aqui começo a desconfiar que ter problemas de saúde é um elemento de praxe, básico, para podermos lançar mão de procedimentos médicos e hospitais quando oportuno.
Bom, agora tinha: a mãe, a Sra. No, o sobrinho, a loja confiscada, o amigo doente, e o fato de ele ficar paralizado da cintura pra baixo toda vez que ficava nervoso!
Até que semana passada veio a derradeira.
Ele tinha que ir a Curitiba, passando por São Paulo para me conhecer, onde ficaria 2 dias. Vinha com um amigo, o dono do bar da esquina, que era também o dono do carro em que viajariam. Me pediu inclusive para checar um hotel muito do vagabundo em que estava pensando em se hospedar. Em Curitiba não haveria problema porque eles ficariam num Motel na periferia, super seguro! e muito mais em conta!!!
Fui dar uma olhada então nos seus amigos de msn, em sua página de perfil. Não custava nada checar né?! Descobri que ele tinha contato com várias mulheres que se intitulavam "Fulano Casados", "Doce Ciclano", "Especiais do Borogodó", entre outras, com fotos de perfil para lá de sensuais. Putaria explícita. Mas até aí, vai ver que é só uma tara de Delaney. Afinal homem tem dessas coisas pornográficas né.
Bom, tudo combinado na mais perfeita normalidade para nos encontrarmos semana que vem, e ele me diz: você não imagina o que aconteceu! E é claro que eu não podia mesmo imaginar, depois de tantas coisas. Enfim, o amigo dele, que alugava sua casa em Curitiba, havia morrido de repente, aos 40 anos, de um infarto fulminante! E tudo isto naquela semana!! Ele tinha então que ir correndo a Curitiba pois a mulher do amigo, que aí já não era bem sua amiga, estava ocupando a sua casa e ele queria ela fora de qualquer maneira. No que eu perguntei "mas não tem um contrato de aluguel???". Ele me disse que tinha, mas que ia até lá tirar a mulher a força e fazer justiça com as próprias mãos.
Tudo isso em caráter de urgência, pois tinha que retornar ao Rio antes do dia 6 de março para prestar o concurso da polícia civil, que estava garantido sob uma liminar da justiça. Seu sonho era ser policial!
Entre parênteses não posso esquecer de mencionar a mãe, que também havia passado mal naquela semana por ocasião de seu aniversário. Quando eu perguntei se ele a havia levado ao hospital, ele me disse que não, mas prontamente me respondeu que havia chamado o médico em casa - raciocínio rápido hein Delaney!, ficando o último final de semana exclusivamente por conta disso. Não deixando contudo de comparecer a uma festinha de aniversário de uma colega da academia na qual só haviam mulheres, mas que estava ruuuuiiiiiimmmm...
Resultado: tinha a mãe, a Sra. No, o sobrinho drogado, o concurso para a polícia militar, digo, civil, o amigo morto aos 40 anos, o outro com a saúde debilitada indo se casar em outra cidade, a futura mulher do amigo que parecia não ser de todo uma boa pessoa, o roubo do ouro, o taxi, e é claro, não posso me esquecer do fato de ele ficar paralizado da cintura pra baixo toda vez que ficava nervoso!...
E a velha a fiar...
E por fim, EU, até agora eu acreditando em tudo! Adoro histórias bem contadas. Nunca me esqueço do E.T.

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