quinta-feira, 31 de maio de 2012

O DESCABELADO DA VILA MADALENA

Não sei porque insisto com essa história de sites de relacionamentos, mas atualmente penso que me mantenho conectada apenas para dar boas risadas.
Esse carinha eu conheci - adivinhem??? - isso mesmo: pela internet!!!
Site judaico, o cara era judeu. Isso na verdade não é tão óbvio quanto parece... outro dia conheci um cara neste site que estava na "fase judaica" da sua vida. Era um "wanna be", mas se fazia passar perfeitamente por um judeu, falava hebraico e tudo! Até que lá pelas tantas ele me confessou que a "fase judaica" dele havia passado há alguns meses e que ele agora era adventista do sétimo dia! E olha que ele me enganou direitinho. Só caí na real mesmo quando a gente se encontrou e ele me mostrou a foto de "quando ele era judeu", de barba, peiót, tsitsit e talit. Esse era doido de pedra mesmo! Mas essa é outra história que qualquer dia escreverei.
Pois bem, esse menino, o foco inicial deste texto, me parecia bastante interessante numa primeira olhada. Mas só numa primeira! Porque até hoje me penitencio com um azorrague de auto-flagelação por não ter dado uma segunda olhada antes de prosseguir.
Bom, eu sou meio impulsiva mesmo, então seguimos em frente... 
Conversa vai e conversa vem, ele me contou que é daqui mesmo de São Paulo, mas morou alguns anos em Israel depois de se formar na faculdade. Foi tentar a vida por lá pois aqui não havia achado seu espaço sócio-cultural-profissional.. Em outras palavras, um perdido no mundo que não ia conseguir se situar nem aqui nem na China, muito menos em Israel, visto que quando iniciamos a nossa conversa ele estava terminando de escrever uma tese de doutorado - até hoje não consegui entender bem doutorado em que - e planejava concluir a tal tese nos Estados Unidos.
O fato é que ao invés de acender a luzinha vermelha, meu cérebro deu um comando errado e acendeu várias luzes verdes e coloridas, dando a entender que um cara fazendo doutorado não deveria ser de todo uma pessoa desinteressante... 
MAS ERA! 
Lembro que conversávamos muito à noite e de madrugada. Cara notívago, meio boêmio. Tinha uma única foto no seu perfil em que aparecia todo descabelado, meio feio até. Mas pensei: um cara que põe uma foto dessas pra pegar mulher deve ser, no mínimo, autêntico. E assim fomos trocando informações em clima de romance. Ele morando a poucos metros da minha casa, acordadão a noite, descabelado na foto... 
Olha que romântico: numa de nossas madrugadas virtuais, ao me ouvir reclamar de fome, ele propôs me levar uma sopa de manufatura própria!, às 2 horas da manhã para jantarmos juntos. E ainda me disse que adorava programas assim inesperados, no meio da noite, sem planejamento prévio.
Eu, que adoro um porra louca, fiquei fascinada.
A sopa não rolou por razões óbvias. Eu sou maluca, mas não ia chamar um desconhecido no meu apartamento às duas da manhã, carregando ainda por cima um panelão de sopa de gosto duvidoso. Fico imaginando a cara do porteiro... no mínimo ele ia pensar que eu tava recebendo um despacho naquela hora esquisita. Ia dar muito trabalho pra explicar tudo isso na reunião de condomínio... declinei então da sopada.
Claro que essa personalidade despachada, a poucos metros da minha casa, acordadão a noite e descabelado na foto, foi atraindo minha atenção aos poucos. Me fascinava o fato de ele estar sempre escrevendo a tal da tese, de madrugada porque era notívago, e de ele saber cozinhar, coisa que eu não sei e que sempre valorizei nos homens, nem que seja fazendo uma canja. Tinha também o atrativo da disposição dele de sair a qualquer hora da madrugada em vista de uma boa proposta de diversão.
Cara low profile, nunca quis que fôssemos contato no Facebook... sempre falava que, por enquanto, era melhor deixarmos as coisas como estavam, conversando, nos conhecendo virtualmente... puta azar - ou sorte? - que não vai ver a divulgação do texto sobre a sua pessoa. Há!
Após alguns meses de troca de informações, resolvemos enfim nos encontrar. E foi um encontro bem casual, de acordo com nossas personalidades. Conversando de madrugada, nos perguntamos o que estávamos fazendo - ele pra variar escrevendo a porra da tese, e resolvemos: daqui meia hora na Vila Madalena.
Beleza, ele veio de carro, eu também, e como estava um trânsito desgraçado na Vila, ele deixou seu carro numa esquina qualquer, encontrando comigo no meio da rua. Passei de carro, vi a figura descabelada e buzinei. Estacionamos meu carro e ele sugeriu um bar, com música ao vivo, estilo descolado, sambinha de roda, bem perto de onde moro. Fomos a pé. 
Chegando no bar, ele me conta que é habitué do lugar, e qual não foi minha surpresa quando após pegarmos as bebidas o cara me fala "olha, me espera aqui no balcão que eu vou lá falar com um pessoal que eu conheço e já volto". Fazer o que... esperei. Deu uns minutos o cara volta, fica 5 segundos comigo sem trocar palavra, e fala "peraí que eu vou no banheiro". E assim passou a noite, circulando no bar em busca de conhecidos ou indo ao banheiro. De duas, uma: ou o cara tava com uma puta caganeira, ou tinha arrumado maconha. Porque não é possível alguém de 40 anos fazer isso com outro alguém de 40 anos.
Pô, se o cara não gostou de mim, vamos num café, inventa que tem a porra da tese pra terminar e acabamos logo com o sofrimento! Agora, se o cara quer ir no bar do qual ele é habitué e me leva junto, e se comporta desse jeito, ele só tem desculpa se tiver um distúrbio mental. 
E assim passamos a noite... o cara se cagando no banheiro e/ou fumando maconha, e eu fazendo amizade com um pessoal encostado no balcão, e amaldiçoando cada segundo em que eu não estava na minha cama abraçada com a minha cachorra embaixo das cobertas naquela noite gelada.
Por fim o cara me fala "olha, vamos pagar a conta porque o bar vai fechar daqui a pouco e fica a maior fila pra pagar depois". Aí eu fui né... pagamos e eu perguntei pro descabelado "e aí, vamos embora?".
E aí vem a melhor parte!!!! O cara simplesmente vira pra mim e fala: "acho que eu vou ficar". Ouviram bem? "Acho que EU vou ficar!!!", e não nós!, muito menos me perguntou se eu queria ficar também. Claro que eu não queria, mas só para lembrar, a gente tinha ido a pé pra porra do bar! E já eram mais de 3 horas da manhã! 
O que aconteceu? O óbvio! Dei meia volta, obviamente não consegui um taxi, e fui caminhando até meu carro por alguns quarteirões às 3 horas da madruga junto com os bêbados e as putas.
Foi ótimo! Um programa espetacular!!
Qual não foi minha surpresa quando algumas semanas depois eu encontro com o infeliz na sinagoga... era Yom Kipur, sinagoga lotada, mas ele me viu. E qual não foi minha surpresa maior ainda quando ele veio falar comigo, descabelado como sempre, como se fosse meu amigão! Incrível!!
Eu perdi alguma coisa nesse processo de evolução, mas tenho certeza de que encontraria essa coisa muito bem se tivesse me especializado em psiquiatria!
Só sei que quando me lembro desses caras todos, me aflora uma fissura religiosa e eu levanto as mãos para o céu e agradeço imensamente o fato de ainda estar solteira!

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