segunda-feira, 21 de maio de 2012

O VÉIO DA REPRESA

Mais uma história pro rol dos relacionamentos virtuais. Esta é do ano passado.
O véio da represa era um senhor dos seus 54 anos, que conheci - adivinha!!? - através de um site de relacionamentos virtuais.
Como tínhamos uma amiga em comum, logo combinamos de nos encontrar e nos conhecer pessoalmente.
Era um véio simpático, morador da zona sul de São Paulo, próximo à represa de Guarapiranga, um ex-rico. Cheio de maneirismos da época em que ainda tinha dinheiro. Sempre me contava histórias sobre seus amigos, alguns ricos, outros já pobres e doidos, e da forma como seu pai tinha perdido toda a fortuna da família. Ah! E de como ele trabalhava duro para manter um padrão, e sustentar a mãe, o irmão problemático, a irmã separada com seus 2 filhos, inclusive um sobrinho de 18 anos, o qual ele dava uns sopapos de vez em quando.
Era também ex-militar, que por desavenças na aeronáutica não conseguiu uma patente de brigadeiro, tendo de se contentar com uma patente menor até conseguir processar judicialmente todo o sistema para finalmente ser reconhecido como um grande oficial. Tinha mágoa disto, e de ser ex-rico, e de não poder mais ostentar como antes... mas me parecia um cara deveras conformado. Muito correto.
Fazia muita questão de me deixar bem claro o quanto bom filho ele era, levando sua santa mãezinha ao supermercado EXTRA todas as semanas, às vezes mais de uma vez por semana, e esperando pacientemente enquando ela fazia suas compras, com toda a boa paciência de um filho espetacular.
Ele era metade judeu por parte de mãe e agora que o pai havia falecido, estava voltando-se para a religião judaica, construindo elos de amizades com alguns religiosos e afins, para frequentar o métier.
Olha, na minha opinião esses são os piores dates. Os caras wanna be. Se bem que este até era, mas queria desesperadamente ser reconhecido como judeu. Fazia favores aos rabinos que conhecia, posava de bom moço judeu, ia à sinagoga, frequentava os eventos religiosos e puxava o saco de quem o colocasse numa posição de judeu praticante para dar uma satisfação de sua condição de origem e religiosa para a sociedade. Ou seja, um típico wanna be.
E nessas, ele procurava desesperadamente uma namorada judia.
É aí que eu entro.
Nos achamos, e com uma amiga em comum tudo ficava extremamente mais fácil.
Ele veio me buscar em casa, saímos e ele se mostrou extremamente cavalheiro, cordial, educado, com modos refinados. Gestos simples, que certamente ele devia ter praticado exaustivamente com a mãe, como abrir aporta do carro e andar pela rua do lado da calçada, foram despertando meu interesse.
Só uma coisa achava estranha, ele tinha o hábito de após sairmos para comer, me fazer pagar um café, ou um chocolate. Bom, alguma coisa eu tinha sempre que pagar. Mas relevei.
Pelo menos ele não tinha a mania, como o Véio do Rio (http://www.relacionamentosciberneticos.blogspot.com.br/2012/05/o-veio-do-rio.html), de andar sempre do meu lado esquerdo. Não me pergunte por que... só conheço duas criaturas que me acompanham obrigatoriamente pelo lado esquerdo: o Véio do Rio e a minha cachorra! No adestramento o certo é o animal andar do lado esquerdo do dono, então ela também tem essa mania.
Mas voltando ao assunto...
Após algumas saídas, eu estava bem travada em relação à novos conhecimentos. Minha habitual aversão ao contato físico andava a todo vapor, enquanto ele tentava decifrar o que se passava dentro da minha cabeça. Difícil, concordo, mas estávamos indo, num joguinho de sedução deveras interessante. Ele dizia que usava seu conhecimento de estratégia de guerra para me decifrar, e eu me divertia com aquilo, achando tudo muito interessante.
Um dia ele me convidou para uma festa na casa de uns amigos, todos mais velhos, mas um ambiente muito interessante, e devo confessar que achei até que estávamos criando alguma cumplicidade entre nós. Foi divertido, uma noite agradável.
Outro dia ele me acompanhou ao shopping, eu precisava fazer umas compras. Após o trabalho, ele me buscou em casa e fomos, lá pelas 19 hs ao shopping. Comprei o que precisava e não tendo jantado, logo pensei que iríamos comer alguma coisa ou pegar um cinema, enfim fazer um programinha de gente grande. Qual não foi a minha surpresa quando pouco antes das 20 hs ele me diz que precisava me deixar em casa pois tinha combinado de jantar com a mãe. Fiquei estupefata. Eu, no shopping, sem carro!, morrendo de fome, e o cara querendo me deixar em casa porque ia encontrar a mãe. Porra! Porque não avisou antes? Eu não precisava de companhia pra comprar um cobertor! Ninguém em sã consciência imagina que vai sair com um carinha (de 54 anos, diga-se de passagem) que está saindo há algum tempo e vai passar meia hora com ele no shopping só para comprar um cobertor! Né?? Bom, ele viu que eu estava com fome e me levou por fim para jantar. Mas só eu comi! Ele ia comer mais tarde com a mãe.
Bem, nos encontramos mais algumas vezes, jantamos, almoçamos, até que um dia na hora do almoço, muito agradável por sinal, combinamos de nos encontrar a noite. Eu pensei em sairmos a pé no bairro em que moro, que é cheio de restaurantezinhos e o convidei para me buscar em casa e conhecer meu apartamento. Nós não tínhamos nada um com o outro e eu juro por tudo que é mais sagrado como o convite não tinha segundas intenções. Só queria mostrar como eu moro, afinal gastei uma nota na reforma daquela porra de imóvel e adoro mostrar meu apartamento para os amigos.
Combinamos lá pelas 20 hs e ele me ligou próximo deste horário me dizendo que iria dar uma carona do Itaim à zona norte - uns 30 Km! para um amigo, na hora do rush!, e depois viria me encontrar. Eu pensei "ok" e fiquei em casa escrevendo um post para meu blog. Nem percebi o tempo passar. Após um tempo com o corpo doendo de digitar no notebook, fui verificar o horário: 21:30 hs! Fiquei imediatamente preocupada, será que havia acontecido alguma coisa? Liguei, nada. Liguei novamente depois de um tempo e ele atendeu, dizendo que estava com muita dor de cabeça e após deixar seu amigo na zona norte foi direto pra casa - na zona sul!! uns 50 Km!! E eu perguntei sobre a possibilidade de levantar o celular para me avisar que não viria, no que ele respondeu: eu ia ligar! mas estava com dor de cabeça... (ia ligar???). Tudo bem que o cara é da era pré-celular, mas acredito que ele saiba usar o telefone pra avisar que não vai aparecer!
Eu nem fiquei chateada que o cara não foi. Fiquei puta porque o cara não avisou! Não custava nada avisar! Ainda por cima um cara tão cavalheiro, tão educado? Será que ele surtou quando se mostrou cavalheiro ou quando foi extremamente deselegante?
Jekill and Hide.
E o pior, vendo que eu fiquei puta, ele fez o que? Sumiu! Incrível né?
Passados uns dias, foi meu aniversário. E ele reapareceu para falar parabéns.
Eu, que na minha ingenuidade sempre acho que posso ter passado do ponto, resolvi agir com mais delicadeza e dar uma nova chance para nós. Ele me parecia ainda interessado. E apesar de não sentir nenhuma atração física por aquele senhor, eu até pensei que de repente ele podia ser uma boa companhia, um cara interessante para ter ao meu lado. E fiz a cagada monumental de dar uma nova chance para nós.
Fui almoçar com ele e depois marcamos de conversar sobre nós, sobre o que havia acontecido até ali, de acertar as arestas. Combinamos um jantar e adivinha o que aconteceu? Isso mesmo pessoal!! Ele não apareceu e
Eu até liguei para saber por que ele não apareceu, já que me deixou esperando. E adivinhem mais uma vez???? Ele estava com quem??? com quem???? Issooooooo!!! Com a mãe!!! Voltando de uma porra de um jantar de shabat na casa de um dos religiosos de saco já bem puxado naquele dia.
Pensando bem, agradeço a Deus todos os dias pela sorte que tive! Foi Deus que mandou ele para a casa do religioso e tirou o estrupício do meu caminho num bonito dia de shabat.
E assim termina a histório do véio da lagoa.
Sem continuidade porque eu nunca mais vi este senhor. Deve estar com a mãe né!

3 comentários:

  1. Que triste! Quantas decepções, bem que você tentou! Pode ficar com a consciência tranquila que vc. fez tudo o que podia, até por um veinho de 54 anos louco pela mãe. Marcos.

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  2. Por essa e por outras eu tinha colocado no meu perfil que não servia quem morasse com a mãe.
    E não adiantou nada pq vieram uns que não moravam com a mãe mas que tinham outros infinitos problemas!

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    1. Pois é, Mafalda...vc. é mesmo uma incompreendida! Marcos

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